Coração de Portugal: um projeto para a Insuficiência Cardíaca

Ciclo de Conferências debateu estratégias de resposta para a doença

Out 26, 2020
Coração de Portugal: um projeto para a Insuficiência Cardíaca

O Ciclo de Conferências sobre Insuficiência Cardíaca - Uma Estratégia para Portugal, que decorreu nos dias 6,7 e 8 de outubro, teve como ponto de partida a apresentação do Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal, um documento de consenso sobre o que ainda há a fazer nesta área. Contou com a participação de 15 oradores especialistas na doença, em gestão em saúde e governantes, que alertaram para a necessidade de melhorar o acesso dos doentes aos cuidados, serviços mais organizados e mais investimento. A iniciativa realizou-se no âmbito do projeto Coração Portugal, uma iniciativa Novartis e Medtronic em parceria com o DN, JN e TSF, que tem o objetivo de alertar, consciencializar e sensibilizar para esta realidade em Portugal.

A primeira sessão do ciclo de conferências foi marcada pela apresentação do documento “Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal”, que resulta do trabalho conjunto de um grupo multidisciplinar constituído por Médicos de Cardiologia, Medicina Interna e Medicina Geral e Familiar, decisores políticos e representantes do Ministério da Saúde, Representantes da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC), Representantes de associações da indústria farmacêutica e de dispositivos médicos, entre outros especialistas do setor da Saúde Pública. Resultou de um trabalho iniciado em julho de 2019, com o objetivo de analisar a situação do país, encontrar novas medidas e votá-las quanto à sua importância, tendo em conta o grau de urgência de implementação à luz da realidade nacional.

Este documento de consenso pretende não apenas identificar as principais falhas do sistema, mas também propor uma estratégia de resposta, alertando para a falta de unidades especializadas e para a articulação pouco eficiente entre os diferentes níveis dos cuidados de saúde, situações que levam a que muitos doentes sejam diagnosticados e tratados tardiamente, obrigando a longos internamentos (uma média de 12 dias) e mais custos 1, 2. Basta referir que a Insuficiência Cardíaca (IC) é a primeira causa de hospitalização em Portugal depois dos 65 anos3 além de que uma em cada dez pessoas morre no hospital2. A este quadro há ainda a juntar a falta de conhecimento da população em geral em relação à doença e até de muitos profissionais de saúde, que não estão preparados para detetar os sintomas (pernas e pés inchados, cansaço, dificuldades respiratórias), facilmente confundíveis e atribuídos à idade.

No segundo dia do Ciclo de Conferências, o governo, através do secretário de Estado adjunto e da Saúde, assumiu que há muito a fazer nesta área para melhorar a resposta aos doentes e prometeu agir. O debate, subordinado ao tema "Prevenção, Tratamento e Impacto Socioeconómico em Tempos de Pandemia", foi marcado pelos alertas para a articulação de cuidados, maior financiamento – incluindo nos cuidados de saúde primários, pessoal especializado, prevenção da doença e responsabilidade do próprio doente.

A prevenção foi uma das palavras-chave do último dia do Ciclo de Conferências. Outros temas recorrentes ao longo do debate passaram pela necessidade de melhorar o acesso dos doentes aos cuidados, aumentar o nível de organização dos serviços, articulando-os melhor entre si, e garantir uma linha de financiamento dedicada a esta patologia mais substancial e bem aplicada. No final, a palavra essencial foi para os doentes, que têm toda a importância neste percurso e que devem, cada vez mais, estar integrados no seu processo de tratamento. Se estes estiverem devidamente informados, poderão monitorizar melhor os seus sintomas e evitar até chegar a estádios da doença mais graves, através da adoção de um estilos de vida mais saudáveis.

A IC é um problema real, urgente e de grande dimensão em Portugal. Estima-se que existam 400 mil pessoas com esta síndrome no nosso país4, um número que deverá aumentar para meio milhão até 20604. Contudo, a consciência para este problema, bem como uma resposta estruturada, tardam em tornar-se uma realidade. Para os doentes, a IC representa um decréscimo significativo na sua qualidade de vida, na sua independência, bem como um número elevado de comorbilidades e um índice elevado de mortalidade5. Para o Serviço Nacional de Saúde esta síndrome – que constitui a terceira causa mais comum de hospitalização no nosso país(REF) – representa cerca de 2,6% da despesa pública em saúde2. É com o objetivo de compreender melhor o que é a IC, quais as suas causas, tratamentos e métodos preventivos, que nasce o projeto Coração de Portugal.

Saiba mais sobre o projeto Coração de Portugal aqui (http://coracaodeportugal.dn.pt/).

Reveja na íntegra o Ciclo de três Conferências dedicadas ao Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca aqui (http://coracaodeportugal.dn.pt/noticias/).

Conheça o Consenso Estratégico para a IC em Portugal aqui (http://coracaodeportugal.dn.pt/o-consenso-estrategico-para-a-ic/)

Referências:

  1. Neumann T, Biermann J, Erbel R, et al. 2009. Heart failure: the commonest reason for hospital admission in Germany: medical and economic perspectives. Deutsches Arzteblatt international 106(16): 269-75
  2. Gouveia MRA, Ascenção RMSS, Fiorentino F, et al. 2020. Os custos da insuficiência cardíaca em Portugal e a sua evolução previsível com o envelhecimento da população. Revista Portuguesa de Cardiologia: doi.org/10.1016/j. repc.2019.09.006
  3. Cowie MR, Anker SD, Cleland JGF, et al. 2014. Improving care for patients with acute heart failure: before, during and after hospitalization. ESC heart failure 1(2): 110-45
  4. Fonseca C, Brás D, Araújo I, et al. 2018. Insuficiência cardíaca em números: estimativas para o século XXI em Portugal. Revista Portuguesa de Cardiologia 37(2): 97-104
  5. Ponikowski P, Voors AA, Anker SD, et al. 2016. 2016 ESC guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur J Heart Fail 18(8): 891-975